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Segurança

Elevador da Glória – a segurança como prioridade

Antes de tudo mais não poderíamos deixar de apresentar os nossos pêsames a todos os familiares e amigos das vítimas mortais deste trágico evento. Ao mesmo tempo endereçamos votos de rápida recuperação a todos os feridos.

Nesta ocorrência, de acordo com a nossa opinião estamos perante um acidente grave, ou seja um acontecimento inusitado com efeitos relativamente limitados no tempo e no espaço que atingiu pessoas e bens. Ou ainda, um evento não desejado ou não programado, repentino, fortuito, com efeitos indesejáveis e, por isso, suscetível de provocar danos de diversa ordem.

Estes eventos afetam o sentimento de segurança da comunidade, na medida em que o conceito de segurança é abrangente, podendo ser definido como “o estado de tranquilidade ou de confiança que resulta da ausência de risco, perigo ou perturbação” (1).

De acordo com os últimos dados disponíveis,  o descarrilamento do Elevador da Glória provocou 16 mortos e mais de 20 feridos, entre os quais cidadãos de dez nacionalidades. Inicialmente foi levantada a hipótese de ruptura de um cabo de segurança, possivelmente agravada por falhas mecânicas, sendo a manutenção do sistema, realizada há anos por uma empresa externa contratada pela Carris. Posteriormente, referiu-se que tudo continuava em aberto, sendo necessário análises complementares para se concluir sem dúvidas o que causou o acidente. Tanto quanto foi possível apurar, este elevador já tinha descarrilado em 2018 devido a uma anomalia técnica. Acresce que os trabalhadores da Carris já teriam alertado para problemas de manutenção, incluindo “falta de tensão no cabo”. Após o acidente, a Câmara Municipal de Lisboa suspendeu o funcionamento dos outros ascensores históricos (Bica, Lavra e Graça) por precaução.

As autoridades, incluindo Ministério Público, GPIAAF e AMT, abriram investigações para apurar as responsabilidades e as causas. A Medicina Legal reforçou as suas equipas de Lisboa de molde a realizar de forma célere as autópsias. O acidente gerou uma forte comoção nacional e internacional. O Presidente da República, o Governo, líderes políticos e autárquicos manifestaram pesar, sendo decretado luto nacional. Houve também diversas reações de solidariedade internacionais, inclusive de líderes europeus. A dimensão do desastre tornou-se destaque na imprensa mundial, originando debates sobre a segurança, fiscalização e externalização da manutenção dos elevadores históricos da capital. Por seu turno, os relatos de sobreviventes destacam o pânico vivido no momento do descarrilamento e histórias marcantes de perda. 

A resposta de emergência a este acidente foi classificada como “meteórica” mercê da rapidez com que os meios chegaram ao local e pautou-se pela coordenação, o que terá obstado a que o número de vítimas mortais fosse superior. Contudo, pairam no ar algumas dúvidas sobre a vertente da prevenção, ou seja tudo o que incide sobre a manutenção e respetiva fiscalização. Só os inquéritos das diversas entidades responsáveis poderão esclarecer o que efetivamente aconteceu para daí se extraírem lições para o futuro.

Para terminar não poderíamos deixar de frisar que para evitar acidentes desta natureza e outros análogos a manutenção dos equipamentos e das respectivas infraestruturas deve ser encarada como uma prioridade absoluta, não se deve hesitar no recurso às novas tecnologias que vão surgindo e nunca se deve abrir mão de um sistema de fiscalização e regulamentação robusto.

Isto porque a segurança não é um luxo, é uma necessidade inegociável, na sua ausência resta a vulnerabilidade, a destruição e o caos. 

Sousa dos Santos

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SILVA, Eurico João, Conferências da IGAI Ano 2002/2003, Lisboa, 2004, p. 39.

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