Como escreveu Paulo Agostinho no Expresso, a Ucrânia é um “país de camuflado”, tendo a resistência à invasão criado um exército que junta civis, militares e polícias, numa estratégia que confunde o atacante, com os resultados que estão à vista. Para Carlos Monjardino, a “estratégia assenta na mobilização de todos os recursos do país para garantir a sua existência como unidade política independente, na criação e gestão continuada de uma das mais bem sucedidas campanhas de mobilização política na Europa e nos Estados Unidos, e na manutenção de uma força de combate altamente motivada e eficaz no teatro de operações”.
E se fosse por cá? É que ao contrário daquilo que é pensamento comum dos “comedores de vento”, fruto de um conjunto de fatores, nenhum país está livre de ser alvo de uma agressão desta natureza. Claro que pertencemos à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), somos membros da União Europeia, temos o Tratado de Windsor de 1386 e signatários de outros tratados e acordos na área da Defesa. Mas seríamos capazes de aguentar o embate inicial? Para tal são necessários recursos humanos em número suficiente, devidamente treinados e motivados, bem como os meios materiais adequados.
Relativamente aos recursos humanos, a opinião é unânime, não são suficientes. A carreira militar, sobretudo no que concerne à categoria de Praças (a base da pirâmide) não é atrativa pelo que não se consegue preencher as vagas existentes. Ao que consta o número de Oficiais e Sargentos será superior ao de Praças. Daí que se tenha levantado a questão do regresso do Serviço Militar Obrigatório. Aliás, o Grupo de Trabalho Segurança e Defesa da SEDES, coordenado por António Teixeira Lopes, em 05/11/2021, propôs um Serviço Nacional de Cidadania (SNC) “pensado por forma a desenvolver o espírito de cidadania, garantir uma forte coesão interna e um reforço das capacidades nacionais. O SNC deverá ser centrado em torno do aumento do “sentimento de pertença” nacional, que por estarmos integrados numa União Europeia devemos valorizar, no sentido de preservarmos a nossa identidade cultural, devendo este ser implementado no sistema de ensino nacional e articulado, sempre que possível, com outros países congéneres”.
O tema tem sido bastante referido nos últimos tempos, com os políticos a manifestarem-se contra e os militares a afirmar que a manter-se a atual situação não se consegue fazer face às necessidades que se fazem sentir. Bacelar Begonha, num artigo de opinião publicado no Ionline, escreveu que “é tempo de Portugal começar a pensar, seriamente, no restabelecimento do Serviço Militar Obrigatório (SMO) para rapazes e raparigas, de modo a que Portugal tenha de facto possibilidade de organizar a sua defesa, em caso de ser atacado, por qualquer louco, ou melhor, por qualquer lunático, que resolva encarnar qualquer herói da História, e restaurar fronteiras passadas, tirando a paz e a tranquilidade ao Povo Português”.
Relativamente aos meios materiais, a atual ministra da Defesa afirmou numa entrevista dada ao DN em 23/03/2022 na qualidade de diretora do Instituto de Defesa Nacional, que “é vital o processo de modernização das nossas forças armadas, tanto no plano da operacionalidade e dos equipamentos como no plano da valorização das pessoas e da atratividade da profissão militar”, propugnando que a meta dos 2% do PIB em despesas militares seja cumprida, o que permitiria ultrapassar alguns problemas.
Mas voltando a Bacelar Begonha, para que nos servem os “2% do PIB, sem pessoas habilitadas, e motivadas, para participar na defesa da Nação, sabendo operar com armas modernas”? Certamente que não servirão de muito.
Regressando à questão inicial: e se fosse por cá? No atual “estado da arte”, receio que tudo terminaria como em 25 de agosto de 1580 na Batalha de Alcântara.
L.M.Cabeço
Discussão
Ainda sem comentários.