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Segurança

Do Equador a El Salvador

Pelos piores motivos, subitamente o Equador saltou para a ribalta da imprensa internacional. Depois de uma série de acontecimentos violentos, ontem, foi vítima de homicídio em Guayaquil, um procurador que estava ligado à investigação do crime organizado e à invasão de um estúdio de televisão por um grupo armado. Do EaEl

Neste momento, trata-se de um país a “ferro a fogo”, com um aumento nos últimos quatro anos da taxa de homicídio em crianças e adolescentes na ordem dos 640%. Em termos gerais, 2023 foi o ano com mais homicídios na história do país, sendo  morta uma pessoa a 69 minutos (40 mortos por 100.000 habitantes) [1].  

A continuar por este caminho, torna-se um sério candidato a engrossar a lista dos denominados estados falhados. Tudo isto se deve ao facto de se ter deixado “minar” pelo crime organizado. Para evitar que se atinja um patamar desta natureza, torna-se necessário jogar na antecipação e evitar a propagação dos tentáculos deste tipo de criminalidade que procura atingir e manietar todos os setores da sociedade

Ao não se agir de forma atempada, tende-se a procurar soluções, por vezes drásticas, na vertente repressiva, à semelhança das que têm vindo a ser implementadas em El Salvador, onde existia uma taxa de 107 homicídios para cada 100 mil pessoas. A solução encontrada para fazer face ao descalabro criminal a que o país tinha chegado, em virtude de grupos como a Mara Salvatrucha e o Barrio 18, traduziu-se na construção de um sistema prisional eficaz, e no encarceramento de milhares de criminosos, reduzindo a taxa de homicídios para 2,3 por 100 mil pessoas.

Contudo, embora este tipo de soluções funcione bem em termos conjunturais, é preciso ir além disto e atacar na origem do problema. Saber porque motivo este tipo de criminalidade floresce. Saber porque motivo se torna tão atrativo ingressar nas fileiras do crime organizado. Em regra, isso acontece porque existe mercado (interno ou externo) para “o produto” que estas organizações produzem e/ou distribuem e porque o tecido económico do país é de tal forma fraco que a generalidade dos cidadãos não consegue sobreviver, restando-lhe duas alternativas, fugir ou associar-se ao mundo do crime e ir tentando subir degrau a degrau.  

Assim, além de medidas meramente conjunturais espalhafatosas e com tendência, muitas vezes, para conduzir a um ponto de não retorno, é necessário, acima de tudo, promover o desenvolvimento para que o crime deixe de ser atrativo.

L.M.Cabeço

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[1] – Em Portugal, segundo os dados do último Relatório Anual de Segurança Interna, em 2022 registaram-se 97 homicídios.

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