Em Vila Nova de Gaia, um grupo criou uma verdadeira “mercearia” de estupefacientes, recorrendo ao Telegram para a divulgação dos produtos e utilizando, posteriormente, os serviços dos correios para o envio das encomendas.
Este caso é bem demonstrativo da capacidade de adaptação das redes de tráfico de estupefacientes às novas tecnologias e aos hábitos digitais da sociedade contemporânea. Para o efeito, são exploradas as potencialidades das redes sociais e das aplicações multiplataforma de mensagens instantâneas e chamadas de voz, aproveitando a sensação de anonimato e a facilidade de comunicação que estes meios proporcionam.
Em simultâneo, conjugam-se estas ferramentas digitais com um serviço tradicional, as entregas via CTT, numa clara tentativa de normalizar e camuflar a atividade criminosa no quotidiano, tornando-a menos visível à atuação das autoridades.
Esta “mercearia” de estupefacientes no Telegram ilustra, de forma exemplar, a modernização do tráfico, que se infiltra tanto nas rotinas digitais como nos serviços tradicionais. Ainda recentemente, a Polícia de Segurança Pública (PSP) desmantelou, em Lisboa, um esquema de tráfico de estupefacientes que recorria a aplicações móveis e se fazia passar por estafetas de plataformas de distribuição.
Deste modo, torna-se evidente que o crime organizado possui uma extraordinária capacidade de inovação e adaptação, acompanhando de perto as transformações tecnológicas e sociais. À semelhança do que é relatado nestas duas situações, as redes criminosas recorrem a plataformas digitais, a sistemas de comunicação encriptados e a métodos logísticos cada vez mais sofisticados para contornar a atuação das autoridades e alargar a sua influência.
Esta flexibilidade permite-lhes ajustar rapidamente as suas estratégias, explorar novas oportunidades e minimizar riscos. Perante este cenário, impõe-se uma adaptação permanente das Forças e Serviços de Segurança, tanto no domínio da prevenção como no do combate, de modo a acompanhar a crescente sofisticação dos métodos utilizados pelo crime organizado.
Por fim, não poderíamos deixar de recomendar a leitura de um livro intitulado Género, Família e Crime Organizado, da autoria de Ana Guerreiro, “indispensável para estudantes, profissionais da prática da investigação criminal, académicos e todos os que desejam compreender as complexidades do mundo do crime na atualidade”.
L.M.Cabeço

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