Mais um médico de 66 anos agredido a soco e pontapé por um utente com 21. Ao que parece por se ter recusado a passar um Certificado de Incapacidade Temporária para o Trabalho (CIT)[1].
Em Lisboa, na zona da Praça do Chile, dois homens foram esfaqueados[2]. Este caso segue-se a outros que têm ocorrido nesta cidade, um deles com consequências trágicas. Isto, frise-se na capital do 3.º país mais seguro do mundo.
Quando ocorreu um outra agressão a uma médica, alguém com responsabilidade não se coibiu de afirmar que isso fazia parte dos riscos da profissão, aparecendo posteriormente a titular da pasta da Saúde a solidarizar-se com a agredida e a condenar este tipo de atos.
Outra categoria profissional que com frequência serve como vazadouro das frustrações da sociedade são os elementos das Forças de Segurança[3]. A este propósito, também alguns comentadores, opinadores e outros grupos afins partilham da opinião que tal conduta é admissível. Por isso, não é de estranhar que alguém tenha escrito num despacho de arquivamento de um inquérito que «chamar “filho da puta” a um agente da autoridade pode ser considerado um “grito de revolta”. Desferir um murro num polícia pode ser uma forma de “defesa da força física exercida pelo agente policial”»[4].
Acresce que relativamente a estes profissionais, a elite pensante e opinante tem receitado uma “vacinação” massiva de direitos humanos. Isto, devido a alguns casos devidamente empolados e repetidos até à exaustão pela comunicação social, tudo na base do princípio que notícia é o homem morder o cão e não o inverso. Alguns deles acabaram arquivados, outros tiveram como resultado a absolvição e numa parte residual houve condenações. Mas, estas não podem servir para ofuscar todo o trabalho altamente meritório das Forças de Segurança.
Também os professores têm sido alvo da fúria dos cidadãos lusitanos. Isto, perante a aterradora indiferença da sociedade e de quem os tutela. No início de dezembro de 2109, uma professora primária grávida de seis semanas foi agredida pela mãe de um aluno dentro das instalações da Escola Professor Agostinho da Silva, em Lisboa. Na Assembleia da República, um voto de condenação por esta agressão acabou por ser chumbado.
Ora, num país onde os cidadãos agridem e maltratam quem lhes cuida da saúde, lhes garante a segurança e a educação escolar (diferente da educação familiar), algo tem de estar errado. Acho mesmo que a tal “inoculação” de direitos humanos tem de ser massivamente estendida a toda a população. Parece-me uma das vertentes de terapêuticas adequadas para a baralhação mental que existe no que tange aos direitos, deveres e regras de convivência em sociedade conexas. A outra prende-se com a punição efetiva dos autores deste tipo de ilícitos criminais para que funcione a denominada prevenção geral e especial.
Finalmente, no caso das facadas e noutros análogos, espero que ninguém venha relativizar a situação dizendo que isso faz parte do risco de circular em determinadas zonas urbanas. Ao admiti-lo, implícita ou explicitamente, está-se a condicionar a liberdade de circulação, atirando para as mãos da delinquência essas áreas, onde, um destes dias, apenas se poderá entrar, a determinadas horas ou a todo o tempo, de “caveirão”.
Exige-se uma análise séria e credível do que se está a passar que não assente total ou parcialmente em dados estatísticos. Exige-se mais do que isso. Senão, corremos o perigo de transformar a anormalidade em banalidade.
L.M.Cabeço
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[1] ARS repudia agressão a médico e garante apoio a profissionais de saúde. In Expresso
Mais de 600 incidentes de violência contra profissionais de saúde no 1.º semestre de 2019. In Expresso
Violência na Saúde. Governo estuda medidas para proteger médicos. In RR
Sindicato exige que ministra crie condições de segurança para médicos. In DN
Depois de ter agredido médico em Moscavide, doente insultou outro clínico no Prior Velho. In Público
[2] Preventiva por esfaquear duas pessoas em Lisboa. In JN
[3] Homem detido depois de empurrar e dar pontapés a agente da PSP. In TVI
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