Apesar das declarações e das boas intenções, o problema dos incêndios rurais é uma presença constante nos verões portugueses. De acordo com as declarações mais recentes do ministro da Administração Interna, este ano serão despejados 52 milhões de euros em cima do combate ao “problema”. Desse montante, 20 milhões serão para os meios aéreos e os restantes 32 para os meios terrestres.
Em termos de prevenção, se percorrermos o Orçamento de Estado de 2022 encontramos um conjunto de desígnios com os respetivos milhões de euros associados. Contudo, nota-se a ausência de uma prevenção estrutural, tendo, ainda recentemente[1], o presidente da AGIF recordado que “há muita coisa para fazer” nesta matéria, o que facilmente se constata numa qualquer digressão pelo “Portugal profundo”.
Sobre este tema, e tendo em conta os dias que se avizinham, recomendamos a leitura de um livro da autoria de António Bento-Gonçalves, intitulado “Os incêndios em Portugal”. Um livro que visa contribuir para a divulgação do conhecimento na área dos incêndios florestais, sendo um alerta muito claro para um flagelo que, sem clara mudança de paradigma, apenas poderá piorar, pois, ao contrário da sabedoria popular, continua-se a remediar em vez de prevenir. Tudo isto, num cenário de mudanças climáticas e num país sem grande cultura de auto-protecção.
Por fim, não poderíamos deixar de assinalar que este ano, dezenas de comandantes dos bombeiros estão a pedir escusa de responsabilidades, o que potencia um foco de tensão no relacionamento entre estes operacionais e a Proteção Civil, podendo daqui advir consequências nefastas para a sua articulação com os restantes agentes de proteção civil.
L.M.Cabeço
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[1] – Já em 2018 a Comissão Europeia considerava que a despesa adicional elegível para a prevenção dos incêndios deveria ser de 0,07 por cento do Produto Interno Bruto.
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