1.De acordo com os dados disponíveis, tudo aponta para uma relação entre as alterações climáticas e determinados fenómenos extremos, como seja o caso dos incêndios rurais, os quais na Península Ibérica já se tornaram até 40 vezes mais prováveis do que há algumas décadas. Este novo cenário exige respostas estruturais, tanto ao nível da prevenção como do combate. O tema foi amplamente debatido e alvo de críticas neste verão
Neste contexto, o Governo anunciou que a primeira intervenção dos bombeiros passará a ser profissionalizada, para desta forma reforçar a eficácia e a rapidez na atuação inicial, momento crítico no controlo dos fogos. Ao mesmo tempo, reconhecendo o impacto humano e psicológico desta realidade, a Direção-Geral da Saúde (DGS) lançou orientações específicas para apoiar a saúde emocional dos bombeiros, que enfrentam pressões e riscos crescentes em cada época de incêndios.
2.Atualmente o ataque inicial aos incêndios rurais é efetuada pela Unidade de Emergência Proteção e Socorro/GNR através de equipas helitransportadas. Uma aposta que aquando da sua implementação foi alvo de críticas mas que permite uma taxa de sucesso de mais de 93% na contenção das ignições nos primeiros 90 minutos.
Mas a resposta, em termos gerais, assenta nos bombeiros voluntários, que nem sempre têm disponibilidade imediata, sendo a rapidez da intervenção nesta matéria essencial. Em escassos minutos um pequeno foco pode transformar-se num incêndio incontrolável. Para contornar este obstáculo, e tal como consta do Programa do XXV Governo Constitucional, o Secretário de Estado da Proteção Civil anunciou recentemente a profissionalização da primeira intervenção dos Bombeiros.
Esta medida, como implica treino e preparação técnica mais aprofundados, permitirá a existência de equipas permanentes e especializadas que podem responder às solicitações a qualquer momento, ficando dotadas de uma maior capacidade para atuar no teatro de operações. Além disso, a profissionalização permitirá a integração com novas tecnologias (drones, monitorização satélite, sistemas de alerta precoce). Daqui resultará uma redução dos riscos para as populações e para os próprios operacionais.
Assim, o sistema de proteção e socorro ficará dotado de meios mais rápidos, especializados e consistentes para enfrentar a nova realidade do fogo. Aumenta-se a eficácia do combate, e reconhece-se a complexidade e o perigo da missão.
3.Mas nunca se pode perder de vista que profissionalizar significa também garantir melhores condições de trabalho, apoio psicológico e valorização social. Importa referir que todos os intervenientes neste tipo de ocorrências são confrontados com situações de stresse extremo, risco de vida e, muitas vezes, com o trauma da devastação.
Neste âmbito, a DGS, em colaboração com a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) e a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), divulgou um conjunto de recomendações e estratégias dirigidas a todos os bombeiros e operacionais de emergência, com o objetivo de promover o equilíbrio entre a vida profissional e familiar, bem como apoiar a sua reabilitação física e emocional, especialmente após o combate a incêndios rurais.
4.Em suma, no cenário atual, sem perder de vista a importância primordial da prevenção dos incêndios rurais, na vertente do combate impõe-se a necessidade de respostas mais rápidas, profissionais e articuladas.
Daí que a profissionalização da primeira intervenção, aliada ao uso de novas tecnologias, represente um passo determinante para reforçar a eficácia do combate e reduzir a vulnerabilidade das populações. No entanto, enfrentar esta realidade exige também valorizar e proteger quem está na linha da frente, garantindo condições de trabalho dignas, apoio psicológico e reconhecimento social.
Só uma abordagem integrada que combine ciência, prevenção, inovação e cuidado humano permitirá responder de forma eficaz ao desafio crescente dos incêndios rurais num contexto de alterações climáticas.
L.M.Cabeço

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