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Ambiente, Catástrofes, Relações Internacionais

Desafios contemporâneos

1.Em Portugal, um dos “eventos marcantes” foi o denominado “apagão”. Numa entrevista ao Público, Pedro Amaral Jorge, presidente da APREN, afirmou que os impactos ambientais negativos dos grandes projetos de energias renováveis são “mitigáveis” e criticou aquilo que considera ser “desinformação” sobre o tema. Recordou ainda que um evento como o “apagão” de 28 de Abril poderá voltar a ocorrer a qualquer momento e defendeu que “a rede eléctrica terá de ser expandida, modernizada e gerida de uma forma completamente diferente”. No que respeita aos danos ambientais associados à instalação de infraestruturas de produção de energias renováveis, referiu que estes estão sujeitos a um rigoroso processo de licenciamento ambiental, com medidas de mitigação obrigatórias, acrescentando que, no caso do abate de árvores, os promotores são legalmente obrigados a proceder à replantação numa proporção entre 50% e 100% adicional.

Em primeiro lugar, se existe desinformação neste domínio, impõe-se informar e esclarecer, evitando aproveitamentos que promovam a incerteza e a insegurança. Relativamente ao abate de árvores, importa recordar que, independentemente das taxas de replantação, uma árvore necessita de um longo período de crescimento, por exemplo, um sobreiro pode demorar cerca de 25 anos a atingir a maturidade. Em termos ambientais, está em causa um vasto conjunto de fatores essenciais, nomeadamente a conservação do solo e o seu papel na regularização do ciclo hidrológico, a qualidade da água, a produção de oxigénio, o sequestro de carbono da atmosfera, bem como a preservação dos ecossistemas e da biodiversidade.

Assim, as questões energéticas e ambientais não podem ser tratadas de forma leviana nem com abordagens simplistas que se traduzam em contradições. As suas implicações são profundas e transversais, afetando múltiplas dimensões da sociedade e, inevitavelmente, também a segurança.

2.Mais uma vez, Espanha foi atingida por um temporal que deu origem a cheias, das quais resultaram três mortes. Diz-se “mais uma vez” porque, em Outubro de 2024, o país já havia sido severamente afetado por cheias, desta feita na região de Valência, que provocaram 237 mortos e prejuízos estimados em cerca de 18 milhões de euros. A dimensão dos danos foi tal que se estima serem ainda necessários vários anos para a reconstrução integral das infraestruturas atingidas.

A este propósito, refere-se no Público, num artigo de Andreia Azevedo Soares, que o ano de 2025 ficou marcado por episódios de calor extremo, cheias e incêndios, confirmando uma tendência clara para a intensificação e maior frequência de fenómenos climáticos extremos.

Estes acontecimentos demonstram de forma inequívoca que os eventos climáticos extremos deixaram de ser episódios excepcionais para se tornarem uma realidade recorrente, com impactos humanos, económicos e sociais cada vez mais graves. A repetição destes fenómenos exige uma reflexão séria e integrada sobre as políticas de ordenamento do território, prevenção de riscos e adaptação às alterações climáticas. Ignorar esta realidade ou tratá-la de forma reativa não só agrava as consequências futuras, como compromete a segurança das populações e a resiliência das infraestruturas. A resposta terá, necessariamente, de passar por planeamento de longo prazo, investimento sustentado e uma abordagem que articule desenvolvimento, ambiente e segurança.

3.Por fim, Durão Barroso concedeu uma entrevista a Valentina Marcelino, publicada no Diário de Notícias, na qual deixou o seguinte alerta: “hoje vivemos uma das situações mais difíceis, do ponto de vista internacional, de que há memória”. Palavras que, segundo a jornalista, “devem ser lidas à luz do peso da sua experiência e levadas muito a sério”. 

Na nossa perspectiva, estas declarações devem servir de ponto de partida para uma reflexão aprofundada sobre os desafios globais em curso e sobre a urgência de respostas estratégicas, ponderadas e concertadas, capazes de assegurar estabilidade, segurança e cooperação num cenário internacional cada vez mais incerto.

4.Do exposto, conclui-se que nos encontramos perante uma convergência de crises complexas: energética, ambiental e geopolítica. Não se tratam de episódios isolados, mas de sinais evidentes de uma realidade em que os riscos se acumulam, com consequências cada vez mais severas. Torna-se, por isso, imprescindível a implementação de estratégias integradas e de longo prazo, capazes de articular uma transição energética sustentável, a gestão eficaz dos riscos climáticos, a proteção ambiental e a garantia de segurança internacional.

L.M.Cabeço

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