I
Na sequência dos últimos atentados ocorridos em Paris, o então ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou que foram tomadas as medidas necessárias devido ao problema de risco geral, pois ninguém está imune a este tipo de ataques.
Nessa altura, Rui Pereira, há muito com especiais ligações a esta área, referiu que o «nosso país “não pode de maneira nenhuma descurar a ameaça de um atentado” devido às “suas alianças, incluindo a Organização do Tratado Atlântico Norte”. No entanto, o antigo ministro da Administração Interna considerou que o terrorismo “não pode impor uma lógica de coação”, não podendo os Estados ocidentais “ser paralisados pelo medo”».
A contrastar com estas duas posições, Arnaldo de Matos, “o grande educador da classe operária”, emergiu das profundezas do MRPP para defender o Daesh e atacar o imperialismo moribundo, pois «os atentados de Paris foram “um ato legítimo de guerra”, cometidos por “combatentes dos povos explorados e oprimidos pelo imperialismo, nomeadamente francês”».
II
Entretanto ficámos a saber, através da imprensa que as autoridades portuguesas estarão “em alerta, depois de terem recebido informações da Interpol e da polícia espanhola sobre a presença de três jhiadistas franceses em território nacional”, havendo a possibilidade de um deles ser um dos cabecilhas dos atentados terroristas de Paris, por isso as forças e serviços de segurança estarão em campo, conjuntamente com os serviços de informações.
A este propósito, mais uma vez, Rui Pereira, defendeu que é preciso estar atento, mas sem alarmismos na população, tendo a Polícia Judiciária (PJ) vindo a terreiro, através de um comunicado, esclarecer que os alertas atrás referidos “constituem uma prática habitual que decorre da permanente partilha de informações, no âmbito da cooperação policial na União Europeia, tendente à materialização de ações coordenadas e eficazes dos serviços e forças de segurança. Não há quaisquer razões para alarme e o nível de ameaça terrorista em Portugal mantém-se inalterado”.
III
Decorre neste momento o julgamento de Gima Her Calunga, detido no aeroporto de Lisboa devido a suspeitas de ligação ao Daesh. Este cidadão angolano de nacionalidade holandesa, segundo a investigação levada a cabo pela PJ (órgão de polícia criminal com competência reservada neste domínio), terá sido “treinado por um comando suicida” na Síria, regressando “à Europa com o objetivo de cometer um atentado”.
Além disso, não se pode deixar de referir que estão nas fileiras do Daesh diversos combatentes com ligações diretas e indiretas a Portugal, bem como têm aparecido várias alusões na imprensa a uma pretensa apetência por parte desta organização em relação a uma imensa área geográfica onde se inclui a Península Ibérica. O que se deve ao seu projecto de edificar uma nação que recrie o Califado de Bagdade, alterando dessa forma as actuais fronteiras do Médio Oriente.
IV
Daqui resulta que Portugal não está imune ao terrorismo, embora não o seja de uma forma específica. Daí todo um conjunto de medidas que têm vindo a ser tomadas, sendo de extremamente importante que a arquitetura do sistema funcione plenamente num espetro que vai desde a prevenção até à resposta, pondo-se de lado, de uma vez por todas, os “interesses de confraria”, sem tibiezas, vacilações, desvarios ou aproveitamentos político-partidários.
Depois, sem por em causa o direito à informação (informar e ser informado), deve-se ter algum cuidado na divulgação de notícias relacionadas com esta temática, podendo-se criar um nível de alarmismo desnecessário quando o que mais se precisa em situações desta índole é de prontidão, discernimento e serenidade, dado que por definição o terrorismo é uma forma instrumental de impor o medo sobre um povo, um governo ou um Estado através de atos de violência física ou psicológica sobre alvos indiscriminados.
L. M. Cabeço
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