Em menos de 24 horas a fragilidade do país em termos energéticos, neste caso o abastecimento de combustíveis (gasolina e gasóleo), veio à tona. Os portugueses tomaram consciência do problema quando se viram no emaranhado das filas das bombas de combustível, resultando daqui um certo sentimento de insegurança. Para tanto, bastou que os motoristas responsáveis pelo transporte deste tipo de mercadorias entrassem em greve.
A segurança consubstancia-se num “estado de tranquilidade ou de confiança que resulta da ausência de risco, perigo ou perturbação[1]”. Uma das dimensões da segurança é a segurança energética, a qual segundo Ruben Maciel Correia Ribeiro Eiras, engloba as seguintes componentes:
- Disponibilidade;
- Acessibilidade;
- Eficiência energética;
- Sustentabilidade.
No caso em apreço, e com as devidas adaptações, a segurança energética foi posta em causa em duas dimensões: a disponibilidade e a acessibilidade. Pois, não se consegue fornecer de forma suficiente e ininterrupta os combustíveis. E, por isso a generalidade da população, o cidadão comum, não consegue aceder aos mesmos, apesar da requisição civil dos grevistas e da declaração da situação de alerta.
Isto porque não existe diversificação, e o transporte deste tipo de mercadoria está centrado num determinado grupo profissional e na rodovia. Como temos uma inata incapacidade de previsão, antecipação e prevenção, assente num atávico “deixa andar” e “logo se vê como se pode resolver pela melhor maneira”, nunca houve a preocupação de encontrar mecanismos alternativos para uma situação desta natureza. O expoente máximo desta postura é o oleoduto que está por construir, ao que consta há cinco anos, e que tiraria da estrada 180 camiões que diariamente levam combustível ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, evitando que o funcionamento desta infraestrutura crítica[2] fosse posto em causa por uma greve de motoristas.
O resultado desta amálgama é um contexto de incerteza e vulnerabilidade[3] que incrementa o sentimento de insegurança, passível de aproveitamento para fins perfeitamente dispensáveis.
Por fim, num outro patamar, mas no âmbito da fragilidade das infraestruturas críticas, depois do Ministério da Defesa espanhol ter sido alvo de um ciberataque em março deste ano, um “ataque massivo aos sistemas informáticos do Ministério da Defesa e do Estado Maior das Forças Armadas permitiu a um grupo de piratas informáticos desviar três gigabytes de informação”. Como já referimos, o sucesso da segurança do ciberespaço passa pela promoção de uma cultura de segurança que proporcione a todos o conhecimento, a consciência e a confiança necessários para a utilização dos sistemas de informação, reduzindo a exposição aos riscos, sendo fundamental informar, sensibilizar e consciencializar não só as entidades públicas e as infraestruturas críticas, mas também as empresas e a sociedade civil.
J.M.Ferreira
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[1] SILVA, Eurico João, Conferências da IGAI Ano 2002/2003, Lisboa, 2004, p. 39.
[2] Portugal é o país da Europa com piores infraestruturas de transporte de combustível.
[3] Governo cria rede com 310 postos prioritários. Cada carro só pode abastecer 15 litros.
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