Ao folhearmos os jornais ou consultando os vários sites de informação, facilmente encontramos episódios que relatam manifestações do exercício de uma cidadania de elevado quilate por parte de alguns jovens.
Certamente que inspirado num caso recente, ocorrido em França, um jovem de 22 anos agrediu um motorista da Carris quando este lhe disse que não podia entrar no autocarro sem máscara. Mais a sul, em Sines, um grupo de jovens tentou cercar um carro patrulha da Guarda Nacional Republicana (GNR), pelo que os guardas tiveram de efetuar vários disparos para o ar para os demover dos seus intentos. De volta aos arredores da capital, a Polícia de Segurança Pública (PSP) deteve um jovem que tentava entrar na praia do Tamariz munido de uma pistola de alarme adaptada para calibre 6,35. Recorde-se que ainda há pouco tempo, neste local, uma rixa entre jovens acabou com dois adolescentes esfaqueados.
Tais comportamentos são explicáveis pela exposição constante à violência, por estarem habituados a recorrerem a ela (na família e em meio escolar), e ainda pelo crescimento num ambiente de total desrespeito[1], sem regras. Contudo, não podemos aceitar de forma passiva estes comportamentos pelos efeitos nefastos que daí emanam para a segurança. “A elevada prevalência de jovens em risco ou em situação de desproteção entre aqueles que cometem crimes permite constatar a sobreposição e continuidade dos fatores de risco e a necessidade de intervenção nos mesmos, assim como de adequação das medidas de proteção e de promoção dos direitos para correção das trajetórias desviantes, a montante do cometimento do crime”.
Pelo que tem de existir uma intervenção preventiva devidamente estruturada por parte de um acervo de entidades com competência neste domínio, de molde a evitar que mais tarde ou mais cedo estes jovens deem entrada num qualquer estabelecimento prisional, ficando irremediavelmente perdidos, mercê do contato com a realidade carcerária, bem como das fragilidades da reintegração e da reinserção social.
J.M.Ferreira
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[1] Sobre esta temática, Le Blanc, Marc; Ouimet, Marc; Szabo, Denis; Tratado de Criminologia Empírica, pp. 295 e ss, Climepsi Editores, Lisboa, 2008.
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