Guerra – Para Que Serve?

A conflitualidade armada tem marcado a história da humanidade. Assenta numa multiplicidade de motivações, onde se incluem, nomeadamente: a posse de territórios e dos respetivos recursos naturais, razões comerciais, étnicas religiosas e ideológicas. Está-se perante um conflito armado quando existe um choque de interesses, de duração e magnitude variáveis, assente em diferentes posicionamentos que podem incidir sobre um conjunto diversificado de questões, envolvendo pelo menos duas partes (grupos organizados, Estados, grupos de Estados, organizações) que estão determinados a prosseguir os seus interesses e a alcançar seus objetivos.

Conforme referiu recentemente Nuno Sardinha Monteiro[1], “o caráter dos conflitos está sempre a evoluir, fazendo jus à velha máxima clausewitziana de que a guerra é um verdadeiro camaleão”. Ian Morris, professor de História e Arqueologia na Universidade de Stanford, escreveu recentemente uma obra com bastante interesse para o estudo deste tema, “Guerra – Para Que Serve? O papel do conflito na civilização, dos primatas aos robôs”, onde “narra a emocionante e terrível história de quinze mil anos de guerra, indo além das batalhas e da brutalidade para revelar aquilo que a guerra fez realmente de e para o mundo”.

Este livro é publicado numa altura em que de acordo com a consultora de riscos políticos Eurasia Group, embora não se possa considerar que estejamos à beira de uma 3.ª guerra mundial, o mundo tornou-se um local perigoso. Isto, porque os EUA estão cada vez mais virados para dentro, logo, não assumem, nos moldes em que o vinham fazendo, a posição de garante da segurança global, ao que acresce a proliferação de atores infranacionais capazes de ter iniciativas desestabilizadoras. Esta linha de pensamento vai ao encontro dos prenúncios de Morris, quando sugere “que o próximo meio século vai ser o mais perigoso de todos os tempos”.

Sousa dos Santos

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[1] Monteiro, Nuno Sardinha, Guerras de 4.ª geração, In Revista Militar (dezembro), 2017, Lisboa, p. 1001 e ss.