E num ápice a cidade da Beira, em Moçambique, quase foi varrida do mapa pelo ciclone Idai. Este tipo de ciclones, segundo Pedro Garret “são o resultado da emissão desproporcional de emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera”, estando relacionado com tendência global das alterações climáticas. As consequências nesta cidade moçambicana foram catastróficas e ir-se-ão prolongar no tempo. O Governo português reagiu, mas na nossa perspetiva, fê-lo tarde, devia ter jogado na antecipação, afinal trata-se de um país lusófono ao qual estamos unidos há séculos por laços de sangue e onde residem e têm interesses económicos cidadãos portugueses. Esperamos que a concretização da solução adotada consiga ofuscar a sensação de tibieza inicial.
Se em Moçambique a catástrofe foi originada pelos ventos ciclónicos e pelas chuvas diluvianas, em Portugal continental perspetiva-se um período de seca cujos efeitos se farão sentir em diversos patamares, desde logo no abastecimento de água à população em geral, mas também na agricultura e na indústria. Acresce que esta diminuição da pluviosidade vem acompanhado de um aumento da temperatura em cerca de 0,2 graus a cada década que passa.
O ciclo da catástrofe [1]
Como bem sabemos, a seca, conjugada com outros fatores tais como má gestão das florestas ou a construção de habitações na sua proximidade, cria um ambiente propício para a deflagração de incêndios rurais, basta recordar o que aconteceu nos últimos anos em Portugal e noutros países da Europa onde este tipo de catástrofe não era muito vulgar, nomeadamente nos países bálticos e nos nórdicos.
Não restam dúvidas que as catástrofes de origem natural ou antrópica são cada vez mais frequentes, extremas e revestem-se de especial complexidade cujas consequências em termos humanos, ambientais, sociais e económicos têm uma ordem de grandeza desconhecida.
Por isso, além da implementação de medidas estruturais de combate às alterações climáticas, tanto no plano interno, como no âmbito da União Europeia e no espaço lusófono, temos cada vez mais de estar preparados para dar uma resposta no domínio da proteção civil (e outros conexos) a eventos catastróficos, de forma imediata, adequada, eficaz, sem hesitações, nem tibieza.
Manuel Ferreira dos Santos
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[1] O ciclo da catástrofe – nesta matéria são possíveis diversas abordagens, o ciclo apresentado tem por base Lemieux, Frédéric, DÉSASTRES ET CRISES MAJEURES : LE DYSFONCTIONNEMENT DU SYSTÈME, Traité de Sécurité Intérieure, Éditions Hurtubise HMH ltée, Montréal (Québec), 2007, p. 585 e ss, e Ulrich Boes numa apresentação a propósito do National PSI Meeting 2008, Sofia, Bulgaria. (Grafismo de Miguel Silva).
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