1. No decurso das leituras de fim-de-semana, a minha atenção focou-se em várias questões. A primeira delas, o tráfico de droga. Um artigo do Expresso coloca Portugal, cada vez mais, no centro das “rotas internacionais de cocaína e de haxixe das multinacionais do crime”.
A este propósito, José Carlos Bastos Leitão, diretor do Departamento de Investigação Criminal da Polícia de Segurança Pública (PSP), afirma que o modelo de combate à droga em vigor “está completamente ultrapassado e desatualizado”, dado que assenta num quadro legal de 1993, o qual tem sido alvo de vários enxertos legislativos. Para ultrapassar esta situação, e uma vez que atualmente “cada polícia trabalha por si e a informação é canalizada para a Polícia Judiciária”, o responsável pela investigação criminal da PSP, propõe, e a nosso ver muito bem, «a implementação de base de dados única a que todas as polícias tenham acesso, o que “tornaria mais fácil cruzar informações” para apanhar as grandes redes de traficantes e não apenas os dealers de rua».
Tal como temos vindo sistematicamente a defender, também, neste domínio, urge uma articulação efetiva entre os vários atores, o estabelecimento de diretrizes de cooperação, de coordenação, sem que os denominados “interesses de confraria ou cantonais” se atravessem no caminho, pois mais uma vez se recorda: a ameaça está entre nós. E esta ameaça pode conduzir a abismos de difícil retorno, “in extremis” ao colapso do Estado.
2. Depois, no mesmo semanário, Felipe Pathé Duarte aborda o problema do regresso dos familiares dos combatentes do Daesh, numa perspetiva que considero acertada. Relativamente às mulheres, alerta para a dificuldade em escrutinar o papel que cada uma desempenhou. No que tange aos menores, põe o acento tónico no facto de muitos deles terem sido “enviados para campos de doutrinação onde aprenderam técnicas de combate e a matar”, ao que acrescenta “o sucesso muito relativo dos programas de desradicalização e disengagement”.
Daqui, pode resultar o “caldo perfeito” para que, nesta matéria, continuemos a viver num ambiente de insegurança na Europa.
3. Por vezes, temos uma certa propensão para considerar o estudo da História como algo de dispensável, inútil, desprovido de qualquer interesse. Porém, como defende Miguel Monteiro de Barros, “a essencialidade da História reside na sua capacidade em nos levar a entender quem somos e de como aqui chegámos, na sua capacidade para derrubar mitos e explorar períodos deliberadamente esquecidos ou versões inventadas do nosso passado coletivo, sem medos e sem fantasmas no armário”. Isto aplica-se a todos os domínios, onde se inclui a segurança, a defesa e outras áreas conexas, pois não se consegue processar o presente “se não analisarmos crítica e refletidamente” o passado.
Contudo, o desconhecimento e o mergulho na profundeza das trevas convêm a determinados sectores, porque os ignorantes são mais facilmente manobráveis em função de determinados desígnios, mais ou menos obscuros.
4. Quase a terminar, gostaria de realçar o caso da agressão de um aluno a um professor (mais um), numa escola do Porto, tendo o agressor, ao que parece, afirmado perante alguns funcionários: “já lhe parti o focinho”. Como escreveu Helena Matos, a indisciplina nas escolas tornou-se um caso de polícias e tribunais. No meio de toda esta balbúrdia, resta saber onde andam os mecanismos de prevenção que deveriam obstar a que se chegasse a este “estádio de evolução” do problema. Certamente, tudo muito preocupado com o “politicamente correto”. Assim, corremos o risco, sério, de vermos as escolas, ou uma grande parte delas transformadas em “incubadoras de delinquentes”, quando deveriam ser centros de aquisição de saber (nas suas múltiplas vertentes) e instrumentos de alavancagem social.
5. E por fim, passando da educação à saúde, queria dar nota de um grande desafio nesta área: o fungo Candida auris. Ao que consta não cede à maior parte dos antifúngicos, cifrando-se a sua taxa de mortalidade nos 70%. O Observador, citando o The New York Times, relata que “houve até casos em que os hospitais, onde o fungo foi detetado, foram obrigados a remover o chão e parte do telhado para o erradicar de vez”.
J.M.Ferreira
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