Por diversas vezes se tem levantado a seguinte questão: quem comanda os destinos do mundo? Em fevereiro deste ano, esta temática foi abordada num debate entre Durão Barroso e António Guterres.
Na altura, o atualmente bem posicionado candidato a secretário-geral das Nações Unidas referiu que vivemos “num mundo que já nem é bipolar nem unipolar”, mas num “relativamente caótico” onde a “falta de clareza nas relações de força, faz com que a imprevisibilidade e a impunidade tendem a multiplicar-se”. Por seu turno, Durão Barroso, ex-Presidente da Comissão Europeia e supostamente em trânsito para ocupar o cargo de presidente não-executivo da Goldman Sachs mostrou-se contrário a esta posição, tendo afirmado que “ninguém manda no mundo hoje em dia”. “Ainda estamos a sofrer de alguma forma os efeitos da crise financeira, mas também é errado pensar que são os grandes grupos financeiros que mandam no mundo. Não há uma conspiração global”. Ambos concordaram que se tem vindo a assistir ao crescimento das desigualdades devido à globalização e à evolução tecnológica, o que conduz a um afastamento do eleitorado e à descrença nos políticos em geral (basta ver os níveis de abstenção), terreno fértil para o populismo, para a xenofobia, para o nacionalismo e posições extremistas.
A este propósito, foi recentemente publicado em Portugal um livro intitulado “Quem Governa o Mundo?”, da autoria de Noam Chomsky, onde este autor, para alguns o maior intelectual da esfera pública, “empreende uma incisiva e profunda análise à influência atual dos centros de poder. Focando-se em particular no papel dos Estados Unidos da América, bem como da China, Estados do Médio Oriente e da Europa, Chomsky mais do que limitar-se a analisar a conjuntura mundial desde o fim da Segunda Guerra Mundial, mostra como se distribuem os poderes no mundo, expondo-os do ponto de vista político, económico e militar. Impetuoso, claro, arrebatador e meticulosamente bem documentado, este livro proporciona um entendimento indispensável aos temas centrais do nosso tempo”.
Uma obra a não perder no momento em que abundam sinais preocupantes, tais como o último teste nuclear da Coreia do Norte que causou um terramoto de 5,3 na escala de Richter na região, a questão do terrorismo associada a diversos conflitos no Médio Oriente e em África, bem como a ataques nos mais variados pontos do globo, o Brexit e todas as suas implicações, a tensão no Mar do Sul da China e outros temas conexos que levaram ao caricato episódio do presidente Obama a sair pela porta traseira do Air Force One quando chegou à cimeira do G20 na cidade chinesa de Hangzhou.
Sousa dos Santos
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