A propósito de um artigo publicado no DN do passado fim de semana, relativo à propaganda online de polícias radicais e a uma suposta ligação destes com o Partido Chega!, não poderia deixar de dar nota de alguns trechos daquilo que António Galamba escreveu hoje no Jornali, nomeadamente:
- “Fingir que não há um problema de predisposição para o populismo e para derivas radicais de direita nas forças de segurança, assente no desgaste do prestígio e da autoridade, nas circunstâncias operacionais miseráveis e numa perceção de abandono pelos poderes, o político e o judicial, é inaceitável. Não fazer tudo para reduzir o espaço de afirmação dessas derivas é irresponsabilidade pura, num dos pressupostos da vida em comunidade, a segurança”.
- “Noutro azimute, aceitar que a desdramatização de agressões e ameaças a bombeiros voluntários é a resposta a dar perante ocorrências graves de violência num quartel de bombeiros é abrir espaço para que o pilar central do dispositivo de emergência e proteção civil, os bombeiros, possam ser tocados pelo sentimento de predisposição para aquilo a que já se assiste nas forças de segurança”.
Aliás, no mesmo sentido do alerta lançado por Sérgio Sousa Pinto no Expresso, em 20/10/2019, no rescaldo das últimas eleições, referindo aos portugueses em geral:
- “Mas, identificadas as embrionárias reservas eleitorais do Chega!, não haverá possibilidade de conter a extrema-direita, se não se reconhecerem as tensões sociais, económicas e culturais que constituem a experiência de vida de certas comunidades locais”.
- “Igualmente, o passado ensina que a insegurança social em que vive grande parte da classe média, em processo de proletarização — advogados, professores, médicos, funcionários — jovens com empregos e filhos, mas que dependem, irremediavelmente, do apoio económico dos pais, e que constituem um universo social vulnerável, zangado e desmoralizado — pode oferecer à extrema-direita uma margem de progressão, ou mesmo o seu principal contingente”.
Portanto, está certo António Galamba, quando afirma (à semelhança do que mencionou Sousa dos Santos) que “não agir em função das causas é continuar a perpetuar as razões e o ambiente para as consequências”.
J.M.Ferreira
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