Num extenso artigo, da autoria de Paulo Pena e Valentina Marcelino, anuncia-se em letras garrafais que o crescimento de propaganda online de polícias radicais alarma autoridades, aludindo ao Movimento Zero.
Antes de tudo mais convém referir que o radicalismo consiste numa doutrina ou movimento que advoga a adoção de medidas extremas como forma de resolução de problemas. Assim, perante este quadro estaremos na presença de elementos das Forças e Serviços de Segurança que para resolverem os seus problemas estarão na disposição de recorrer a “medidas extremas”, as quais no caso em apreço se terão consubstanciado na criação do citado movimento que foge aos cânones tradicionais.
Mas, o que verdadeiramente preocupa os jornalistas é a dimensão deste grupo que relegou para segundo plano as associações socioprofissionais e os sindicatos, bem como os pretensos pontos de ligação com o Partido Chega de André Ventura, a qual ignoramos e sobre a qual não nos pronunciaremos.
Nas Forças e Serviços de Segurança, ao longo dos anos, os problemas foram-se avolumando[1] (e.g. efetivos, meios materiais, instalações, vencimentos, suicídios, falta de reconhecimento, agressões, mortes). Aliás, atrevo-me a dizer que continuando-se nesta senda, tempos virão em que as candidaturas para ingresso serão residuais, à semelhança do que já sucede com as Forças Armadas. Daqui resultaram as tensões específicas deste tipo de organizações que tanto as chefias, como os movimentos associativos e sindicais, se mostraram incapazes de resolver conjuntamente com a tutela.
E, foi neste contexto que surgiu o Movimento Zero que se limitou a cavalgar a espiral do silêncio, aproveitando-se da ausência de soluções. Resta saber até onde estará disposto a ir e a metodologia que utilizará quando abandonar o “conforto” das redes sociais. Assim, para se obstar ao aparecimento de iniciativas deste género, só há um caminho: resolver ou pelo menos manifestar vontade firme de solucionar as enfermidades que atingem as Forças e Serviços de Segurança.
Por fim, refere-se no citado artigo que haverá um certo aproveitamento em relação a determinado tipo de criminalidade, criando-se um sentimento de insegurança. Desde logo, convém esclarecer que é a própria comunicação social que muitas vezes coloca bastante ênfase em certos crimes para vender jornais, ter audiências, visitas e likes. Para contrariar esta tendência que não é benéfica para ninguém, temos que ir para lá das notícias repetidas até à exaustão (frequentemente de cariz alarmista) e das estatísticas criminais despejadas anualmente no Relatório de Segurança Interna, e realizar inquéritos de vitimação, solucionar o problema das cifras negras e cinzentas, obtendo-se uma imagem mais próxima da realidade.
Sousa dos Santos
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[1] Sobre esta temática, entre outros:
- Forças de segurança – agressões e indemnização;
- “Ser Jamaica” e “ser Polícia”;
- Os polícias, as pedras e o perigo que espreita à esquina;
- Forças de Segurança – agressões versus sentimento de impunidade;
- Violência contra polícias – a premência de uma estratégia;
- Atuação policial e livre convicção;
- Polícias num país de brandos costumes;
- Forças de segurança – agressões;
- Insegurança da segurança;
- Elementos das forças de segurança enquanto vítimas;
- Agruras de causas profundas;
- Injúrias – forças de segurança.
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