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Segurança

Borba e a espiral do silêncio

Recentemente, um grupo de vinte cidadãos portugueses (como tal detentores dos direitos, liberdades, garantias e dos deveres constitucionalmente consagrados) de etnia cigana invadiram um Quartel de Bombeiros, agrediram o pessoal de serviço e danificaram as instalações.

O facto foi relatado pelos diversos órgãos de comunicação social, os quais de uma forma geral, numa manifestação de politicamente correto, omitiram que os envolvidos eram de etnia cigana. Por sua vez, o senhor Ministro da Administração Interna desvalorizou o ataque e afirmou que Portugal é uma referência de segurança, solidarizando-se à distância com os bombeiros.

Este incidente veio demonstrar que:

  1. Existe uma intensa impregnação de politicamente correto, aquilo que José Manuel Fernandes classificou um destes dias como espiral do silêncio, em que se opta “pela abordagem consensualmente aceite pelas elites em vez de reflectirem as preocupações e as ansiedades dos cidadãos comuns”.
  2. Há uma convicção quase generalizada que só existem direitos, os deveres e as regras básicas de convivência em sociedade estão fechados a sete chaves num cofre de alta segurança. Só as Forças de Segurança, os Militares, os Bombeiros, os Professores, os Magistrados e mais uns quantos têm de estar cientes dos direitos, liberdades, e garantias dos restantes cidadãos, e, por isso, estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição e em toda a legislação que daí deriva.
  3. Foi atacado um Quartel dos Bombeiros, um local onde prestam serviço agentes da Proteção Civil, uma área tutelada pelo Ministro da Administração Interna. Este responsável político quando questionado respondeu da forma acima referida. Esta atuação foi prontamente aproveitada pela “pop star” do momento, o líder do Partido Chega que também viu aqui a oportunidade para minimizar a polémica das alegadas discrepâncias entre as ideias defendidas na sua tese de doutoramento e as que constam no seu programa eleitoral. André Ventura prontificou-se, ainda, a deslocar-se ao local, num ato de solidariedade para com os Bombeiros de Borba, o que teve um reflexo monstruoso na página do seu partido em termos de comentários, likes e partilhas, à semelhança do que tem acontecido noutras matérias.
  4. Até ao momento não tenho conhecimento que algum membro do executivo da área da Administração Interna se tenha disponibilizado para ir a Borba, e se o fizer corre atrás do prejuízo.
  5. Finalmente, não deixa de ser significativo que este incidente tenha ocorrido a cerca de 600 metros do Posto da GNR e nas proximidades existam mais uns quantos Postos desta Força de Segurança (Estremoz, Bencatel, Alandroal, Vila Viçosa, Redondo e Elvas).

Portanto, tem que se ir além do óbvio, acabando com o sentimento de impunidade que grassa. Para tal, urge promover políticas de integração eficazes que certamente não se compaginam com declarações avulsas sobre sapos, bem como políticas de prevenção desenhadas tendo em conta as especificidades dos destinatários e das zonas onde vão ser implementadas. Além disso, dotar as Forças de Segurança de uma efetiva capacidade de resposta independentemente do ponto do território nacional onde ocorram os incidentes.

Caso contrário, “os extremos” não pararão de “cavalgar” na tal espiral do silêncio.

Sousa dos Santos

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