As questões ambientais voltaram a estar na ordem do dia com a poluição a atingir em Nova Deli os piores níveis de sempre, ultrapassando 20 vezes o que a Organização Mundial da Saúde considera saudável. Mas, isto não se trata de um tema associado a países em desenvolvimento, também nos países da OCDE a poluição atmosférica causou cerca de 40 mortes por 100.000 habitantes (28,3 por 100.000 em Portugal). Este tipo de poluição consiste na presença de um ou mais poluentes na atmosfera em quantidades e duração que possam ser nocivos para os seres humanos, plantas ou animais, ou para os materiais, ou que possa interferir com a qualidade de vida ou as atividades económicas.
Embora possa ser originada por fenómenos naturais (e.g. vulcões), está intimamente associada a um conjunto de atividades humanas, designadamente a queima de combustíveis fósseis, o abate da floresta tropical e a pecuária. Daqui resultam grandes quantidades de gases (dióxido de carbono (CO2), metano, óxido nitroso, gases fluorados) que reforçam o efeito de estufa e o aquecimento global, alterando o clima. Este quadro além dos efeitos perniciosos que tem nos seres humanos, também está na génese das vagas de calor, dos períodos de seca, das condições climáticas extremas, da escassez de água, das colheitas agrícolas incertas e de novas ameaças para a saúde.
Segundo um estudo recente, mesmo com cortes drásticos das emissões poluentes, prevê-se que a subida do nível das águas a partir de 2050 coloque em risco cerca 300 milhões de pessoas. Em Portugal, o estuário do Tejo e do Sado, a Ria Formosa, Aveiro e Figueira da Foz serão as zonas mais afetadas.
Num outro ponto do planeta, segundo a Oxfam, a seca que atinge vastas áreas no sul de África constitui uma ameaça para cerca de 45 milhões de pessoas, dado que a combinação da escassez de chuva e as elevadas temperaturas originam a escassez de alimentos, a insegurança alimentar e a ameaça de fome. Nem os animais selvagens escapam a esta tragédia, mercê da qual, no Zimbabué, já morreram pelo menos 105 elefantes.
Em Portugal, um relatório do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) menciona que trinta e seis por cento do território continental estava no final de outubro em situação de seca severa e extrema, prevendo-se no futuro, entre 2046 e 2065, uma diminuição da precipitação média anual de 10% na zona norte e em todo o litoral e de cerca de 30% nas zonas interiores e no sul.
Neste contexto, saúda-se a recente publicação de um diploma sobre a produção de água para reutilização, obtida a partir do tratamento de águas residuais, contribuindo para o uso sustentável dos recursos hídricos, na medida em que permite a manutenção de água no ambiente e a respetiva preservação para usos futuros, enquanto se salvaguarda a utilização presente. Contudo, tenho sérias dúvidas em relação à capacidade para atingir este objetivo, devido a um conjunto de problemas, sobretudo os que afetam muitas das estações de tratamento de águas residuais.
Mas isto não chega, porque a água é um bem escasso e como tal é preciso aprender a aproveitá-la, não a desperdiçando. Além disso, tem de se prevenir os “atentados” contra os recursos hídricos e atuar, planeando, gerindo, licenciando, gerindo, fiscalizando, sancionando de forma eficaz (também faz parte da prevenção) quando for caso disso, para que a proteção destes recursos não pareça uma utopia e se evite a insegurança ambiental na vertente hídrica.
A não se percorrer este caminho, as consequências serão devastadoras, porque podemos viver sem ouro e sem petróleo, mas não conseguimos sobreviver sem água.
J.M.Ferreira
Discussão
Ainda sem comentários.