A semana de 22 a 28 de dezembro [1] ficou marcada por um clima persistente de insegurança, tanto em Portugal como no contexto internacional, num período tradicionalmente associado à pausa e à celebração natalícia.
Em território nacional, a criminalidade violenta e organizada dominou a agenda. O reaparecimento da chamada “Gang dos Rolex” em Lisboa, o aumento de assaltos à mão armada, crimes com armas brancas, violência doméstica extrema e casos de abuso sexual (incluindo crimes contra menores) reforçaram a perceção de um quotidiano mais perigoso. A sucessão de detenções, prisões preventivas e processos judiciais mediáticos, envolvendo desde traficantes de droga a profissionais liberais e membros das Forças de Segurança, alimentou o debate sobre a eficácia da justiça, a corrupção interna e a necessidade de reformas estruturais.
A quadra natalícia foi também particularmente negra nas estradas. A Operação Natal e Ano Novo registou dezenas de mortes, centenas de detenções por condução sob o efeito do álcool e múltiplos acidentes graves, apesar do reforço da fiscalização. Em paralelo, o Serviço Nacional de Saúde enfrentou uma pressão significativa, com tempos de espera elevados nas urgências, impulsionados pelo aumento das infeções respiratórias e da gripe, ainda que alguns indicadores de vacinação tenham revelado resultados positivos.
No plano internacional, a instabilidade manteve-se como traço dominante. A guerra na Ucrânia agravou-se com ataques massivos, apagões e novas exigências territoriais por parte da Rússia, enquanto surgiam sinais contraditórios de possíveis negociações de paz, alimentadas por declarações de Donald Trump e contactos diplomáticos de alto nível. As tensões estenderam-se ao Médio Oriente, a África e à Ásia-Pacífico, com conflitos armados, atentados terroristas, crises humanitárias e sanções cruzadas entre grandes potências.
A geopolítica global ficou ainda marcada pela crescente rivalidade no Ártico, pelo endurecimento das posições em torno de Taiwan e pela consolidação de novos equilíbrios de poder, num cenário em que a ordem internacional do pós-guerra continua a dar sinais de erosão.
Entre violência, pressão sobre os serviços públicos e incerteza internacional, a semana de 22 a 28 de dezembro de 2025 desenhou um retrato sombrio do final do ano: um mundo em transição, confrontado simultaneamente com fragilidades internas e desafios globais de grande escala.
Sousa dos Santos
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